Tuesday

Percebe-se que há lugares onde deveríamos estar e não estamos e, por consequência, lugares onde estamos e não deveríamos estar. Esse desencontro, que à sua maneira deduz uma simetria, torna-se uma espécie de regra da existência quando já não sabemos como comunicar. Por uma lado porque o lugar onde estamos é, para nós que estamos, um lugar banal, enquanto para os outros, que esperavam que não estivéssemos neste lugar, tem a aparência de um lugar especial. Por outro, porque os lugares onde deveríamos estar não temos a certeza de nos quererem lá. Quando se torna obscuro o desejo do outro, quando não se chega a dizer com receio de não dizer o que se espera que se diga, quando as palavras que se dizem transportam sinais de agressividade, e tudo com a melhor das boas intenções se diz para não magoar, a comunicação é cortada e os lugares onde estamos deixam de ter valor e significado. Parece fácil quebrar este enredo falando simplesmente a verdade. Mas a verdade anda demasiado longe das bocas e dos ouvidos e, à conta disso, o que se ouve não é o que se diz mas a expectativa do que há para ouvir adicionada do desejo de receber sempre o pior. Nada disto parece normal mas tudo isto é comum. E eu sei do que falo por já ter estado nos dois lados desta estranha sebe. Espera-se, com paciência, que o tempo reconstrua o que foi destruído ou que, na sua feroz imparcialidade, continue a reduzir a escombros o que ainda resta. É estranho como a erosão parece ser o único factor constante. A entropia. Amparar os desejos ao absurdo e sobre eles construir planos de planos. Talvez seja sofrer o objectivo.

No comments: