Friday

Aos poucos vou-me convencendo que a minha reserva face aos circuitos mais mediatizados não é uma inibição mas uma consciência. Assim como o nosso corpo reage automaticamente ao perigo de uma cobra, a uma cara agressiva ou ao cheiro azedo de uma comida estragada, também pode reagir cautelosamente a outras formas de agressão ou a outros cheiros venenosos. O que o marketing faz é descondicionar ou condicionar de acordo com o que lhe convém.

A vida não vale grande coisa mas ceder às exigências dos vendedores da banha da cobra não me parece uma maneira de tornar mais valiosa a minha individualidade. E por aí não vejo como me podem afectar estando eu à defesa, como é próprio de quem vive na selva e partilha o espaço com predadores não identificados.

O que por vezes é complicado de defender é a recusa em ter mais quando já se percebeu que isso seria possível se houvesse um esforço maior. Neste modelo de sociedade que se tem estado a desenvolver, a falta de ambição é um pecado mortal e moral. O uso e abuso dos recursos faz parte da ordem natural das coisas e não há raciocínio que valha para afectar esse ponto de vista. Se não cumpro o meu dever de ambicionar o bem-estar que a posse de bens e de muito dinheiro promovem, não sou digno sequer do pouco que tenho.

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