Friday

Embora os cães não tenham culpa nenhuma, estou convencido que continuamos a viver num mundo cão. Nem pior nem melhor do que era antes, cão apenas como sempre. E o facto é que não me resigno. Claro que me podem perguntar o que faço então nessa minha forma de não resignação. E aí, como não tenho a virtude do marketing fácil, não seria capaz de me defender adequadamente. O meu método é fazer eu o que acho correcto e não passar a minha vida a exigi-lo aos outros. O que acho correcto, sei-o, não é necessariamente o mesmo que outros acham correcto. Baseio-me apenas na minha consciência e na informação que procuro e tento que me baste. E quando faço o que acho correcto, faço-o com a discrição possível. O meu propósito - porque me interessa um propósito - é dar algum sentido à minha existência. Ainda que um sentidozinho pequeno e relativo. E, porque tomei como meu modelo a ciência e a física, quero enquadrar a minha actuação em princípios com alguma ligação a este fenómeno pouco provável que é sermos matéria consciente. Dito assim, a haver algum propósito, ele terá de ser o de dar a continuidade possível à estrutura do acaso, beneficiando ao mesmo tempo dele e colaborando com os seus extremos. Por consequência o propósito teria que ser o de reforçar os pontos em que se manifesta a complexidade, dar continuidade à evolução e enquadrar os comportamentos para que se reduza a lei da selva. A introdução de consciência num sistema faz com que a evolução deixe de ter carácter aleatório. A tarefa civilizacional é eliminar a lei da selva.

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