Thursday

Às vezes digo que estou bem em qualquer lado com o mesmo sentimento com que poderia dizer que estou mal em qualquer lado. Aqui o bem e o mal estão de tal maneira fundidos que não tenho maneira de os isolar e esclarecer. Reconheço que é assim e não há análise ou preocupação que me faça pensar outra forma de olhar para as coisas. Por vezes, em certos momentos mais reflexivos, vejo esta perspectiva como uma desistência ou uma morte não só anunciada com também assumida. Outras vezes, felizmente mais frequentes, aparece-me como uma simples marca de lucidez, desagradável sem dúvida, mas lucidez pura e dura que não se deixa comover com os ditames da lei da felicidade universal. Não me ocorre ficar feliz com a dor, seja minha ou de outros. E se há sofrimento, ainda que distante, não sou capaz de o ignorar e achar que é mesmo assim e paciência. Para isso teria que ser pragmático, o que de forma alguma me apetece ser, na mesma dimensão em que o não consigo ser. É provável que a felicidade esteja na ignorância. Mas se assim é, e apesar da minha consciência de ignorante, isso parece fazer-me abominar ainda mais a ignorância e todos os sabichões que tiram partido da sua disseminação.

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