Monday

Gosto cada vez mais desta analogia entre os 'blogs' e as pessoas. Também aqui se mede a solidão como uma marca da falta de comunicação. Escrever sem ser lido ou sem saber que se é lido - o que vem a dar no mesmo - como aquele paradoxo de permanecer na ignorância mesmo em relação à quantidade de ignorância que se tem: saber que se é ignorante já é um passo grande na escala do conhecimento. Um dia, com tempo, e acima de tudo com disposição, gostaria de pensar esta maneira como a ficção e os preconceitos nos marcam na nossa ignorância relativa.

Esta manhã imaginava a terra invadida por uma espécie inteligente - realmente inteligente - suficientemente maternal para perceber as limitações dos humanos e tentar elucidá-los das suas dificuldades. É assustadora a ideia de colonização. Vinha isto a propósito de escrever sobre a assombrosa quantidade de gente que anda esforçadamente a tentar salvar-me. Um veradeiro corropio de desinteressados que parece não terem outro interesse senão levar a minha alma para o bom caminho.

Aqui nos 'blogs' somos mais do que nós. Um pouco à maneira do marinheiro que passava o Cabo das Tormentas e era mais do que ele. Os Lusíadas poderiam ser um bom fundamento para uma religião. Uma religião do livro. Com algum cuidado haveríamos de encontrar todas as regras que faltam para uma mística profunda e perfeita. Uma boa temática para 'posts' era: este livro dava uma religião. Mas não ando com grande disposição para pensar. Já percebi porque é que os livros são cada vez menos extensos: não há pachorra nem para escrever nem para ler em extensão. O que interessa é a espuma que consegue fazer agitando bastante. E não vale a pena dizer que isso é mau. É assim. Aceitemos a natureza como ela é, com a sua deriva continental por mares nunca dantes navegados.

Deriva é um bom nome. Tenho que o encostar à minha lista de erros. Encosta-te a mim. O Jorge Palma tem sorte porque as pessoas ouvem o que ele diz. E por isso talvez não esteja muito só. No disco há uma série de boas músicas, o que é extraordinário. O encosta-te a mim será o menor de todos, mas caiu bem nas estações de rádio e serve de lebre para vender o disco. Ouve-se bem o encosta-te a mim. Mas o que ele diz, as palavras que preenchem a música, são um quase puro disparate. Mas suponho que é suposto que enquanto nos embalamos na música não devemos perder tempo a pensar.

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