Thursday

Uma pergunta honesta poderia ser: para quê mais palavras? E uma resposta honesta? Dizer que não se dão respostas honestas. Ou que não há perguntas honestas.

A honestidade pressupõe a verdade. Saber a verdade. É melhor não ir por esse caminho. As palavras andam por aí e temos que as usar porque, ao contrário do oxigénio, não se gastam. A mesma palavra pode ser usada vezes seguidas sem que alguém note que foi usada. Mesmo que seja continuamente repetida. No campo da física seriam bosões, as palavras.

Ainda ando à procura do meu dicionário de palavras vazias. Apenas porque queria não as usar. E com um dicionário poderia, sempre que tivesse dúvidas, excluir do meu texto ou discurso as palavras que lá estivessem. Não sei por que pudor não digo aqui explicitamente o que é o meu dicionário de palavras vazias. Como se receasse que isto fosse lido e me roubassem a ideia. É cómico pensar que a melhor maneira de esconder as coisas é colocá-las à vista de toda a gente. E colocar um texto no caos da internet é isso mesmo: há milhões de pessoas que podem ler o que escrevemos e no entanto não corremos esse risco.

Não me preocupa mas penso várias vezes no que provoca o desvio do olhar. Por vezes acontece isso mesmo, desviar o olhar para um lugar e não saber porquê. E este movimento cooperativo que faz um grupo olhar em harmonia para o mesmo lado de onde sopra o vento e excluir da sua atenção tudo o resto, definindo com súbita verdade o que é importante. Acontece-me muitas vezes olhar para um relógio e o números fazerem uma capicua. Os meus genes mais retrógrados tentam mostrar-me essas coincidências como significativas de algo mais. Se pensarmos bem a probabilidade de olhar para o relógio e ver uma capicua é muito baixa. Somando as ocorrências de 11:11 ou 21:12 ou 12:12 ou 04:40 etc dá 41/(24*60*60) dá 5 ocorrências em cada 10.000. Quer dizer que em cada dez mil vezes que eu olhasse para o relógio só teria 5 vezes com a sorte de ver uma capicua.

O que me vale é ter a ideia que há na minha visão uma mecanismo automático que tem um apetite especial pela simetria e pelo belo, e tal como me faz virar a cara para olhar um rosto belo que passa inesperadamente, também está atento a esses arranjos digitais que à revelia da minha consciência me solicitam o olhar.

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